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Las
enseñanzas de san Juan Pablo II
Discurso del Papa san Juan Pablo II en la celebración del centenario de la encíclica Providentissimus Deus y del 50 aniversario de la encíclica Divino Afflante Spiritu, anunciando el documento La interpretación de la Biblia en la Iglesia: AAS 86 [1994], pp. 232-243. (AAS 85 [1993], pp. 764-772); viernes, 23 de abril de 1993.
Senhores Cardeais,
Senhores Chefes de Missões diplomáticas,
Senhores Membros da Pontifícia Comissão Bíblica,
Senhores Professores do Pontifício Instituto Bíblico!
1. Agradeço de todo o coração ao Senhor Cardeal Ratzinger os sentimentos que acaba de exprimir, ao apresentar-me o documento elaborado pela Pontifícia Comissão Bíblica sobre a interpretação da Bíblia na Igreja. É com alegria que recebo este documento, fruto de um trabalho colegial empreendido por sua iniciativa, Senhor Cardeal, e prosseguido com perseverança durante diversos anos. Ele vem ao encontro de uma preocupação que me está a peito, porque a interpretação da Sagrada Escritura é de importância capital para a fé cristã e para a vida da Igreja. « Com efeito, nos livros Sagrados como justamente no-lo recordou o Concílio , o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos Seus filhos e conversa com eles; e é tanta a força e a virtude que se encerra na palavra de Deus, que é, na verdade, apoio e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, fonte pura e perene da vida espiritual » (Dei Verbum, 21). O modo de interpretar os textos bíblicos para os homens e as mulheres de hoje tem consequências directas sobre a relação pessoal e comunitária dos mesmos com Deus, e está também estreitamente ligado à missão da Igreja. Trata-se de um problema vital, que merecia toda a vossa atenção.
2. O vosso trabalho completa-se num momento muito oportuno, porque me dá o ensejo de comemorar convosco dois aniversários ricos de significado: o centenário da Encíclica Providentissimus Deus, e o cinquentenário da Encíclica Divino afflante Spiritu, ambas dedicadas às questões bíblicas. A 18 de Novembro de 1893, o Papa Leão XIII, muito atento aos problemas intelectuais, publicava a sua Encíclica sobre os estudos da Sagrada Escritura, com a finalidade, escrevia ele, « de os estimular e de os recomendar » e também de os « orientar duma maneira que corresponda melhor às necessidades da época » (Enchiridion Biblicum, 82). Cinquenta anos mais tarde, o Papa Pio XII dava aos exegetas católicos, na sua Encíclica Divino afflante Spiritu, novos encorajamentos e novas directrizes. Entretanto, o Magistério pontifício tinha manifestado a sua constante atenção aos problemas relativos à Sagrada Escritura com numerosas intervenções. Em 1902, Leão XIII criava a Comissão Bíblica; em 1909, Pio X fundava o Instituto Bíblico. Em 1920, Bento XV celebrava o milésimo quingentésimo aniversário da morte de São Jerónimo, com uma Encíclica sobre a interpretação da Bíblia. O vivo impulso dado assim aos estudos bíblicos, encontrou a sua plena confirmação no Concílio Vaticano II, de modo que a Igreja inteira deles se beneficiou. A Constituição dogmática Dei Verbum esclarece o trabalho dos exegetas católicos e convida os pastores e os fiéis a nutrirem-se mais assiduamente da palavra de Deus contida nas Escrituras.
Hoje, desejo pôr em ressalto alguns aspectos do ensinamento destas duas Encíclicas e a validade perene da sua orientação através das circunstâncias mutáveis, a fim de aproveitar melhor o seu contributo.
I. Da « Providentissimus Deus » à « Divino afflante Spiritu »
3. Em primeiro lugar, nota-se, entre estes dois documentos, uma diferença importante. Trata-se da parte polémica ou, mais exactamente, apologética das duas Encíclicas. Com efeito, tanto uma como a outra manifestam a preocupação de responder aos ataques contra a interpretação católica da Bíblia, mas estes ataques não tinham o mesmo objectivo. A Providentissimus Deus, por um lado, quer sobretudo proteger a interpretação católica da Bíblia contra os ataques da ciência racionalista; por outro lado, a Divino afflante Spiritu preocupa-se mais com defender a interpretação católica, contra os ataques que se opõem à utilização da ciência, por parte dos exegetas, e que querem impor uma interpretação não cientifica, chamada « espiritual » das Sagradas Escrituras.
Esta mudança radical de perspectiva foi devida, obviamente, às circunstâncias. A Providentissimus Deus apareceu numa época marcada por polémicas virulentas contra a fé da Igreja. A exegese liberal trazia a estas polémicas um apoio importante, porque utilizava todos os recursos das ciências, desde a crítica textual até à geologia, passando pela filologia, pela crítica literária, pela história das religiões, pela arqueologia e ainda por outras disciplinas. Pelo contrário, a Divino afflante Spiritu foi publicada pouco tempo depois de uma polémica muito diferente, surgida sobretudo na Itália, contra o estudo científico da Bíblia. Um opúsculo anónimo tinha sido largamente difundido, para prevenir contra o que ele descrevia como « um gravíssimo perigo para a Igreja e para as almas: o sistema crítico-científico no estudo e na interpretação da Sagrada Escritura, os seus desvios funestos e as suas aberrações ».
4. Tanto num caso como no outro, a reacção do Magistério foi significativa, porque, em vez de se limitar a uma resposta puramente defensiva, entrou no âmago do problema e manifestou assim notamo-lo de passagem a fé da Igreja no mistério da Encarnação.
Contra as ofensivas da exegese liberal, que apresentava as suas alegações como conclusões fundadas sobre aquisições da ciência, ter-se-ia podido reagir lançando anátema sobre a utilização das ciências na interpretação da Bíblia, e ordenando aos exegetas católicos que se limitassem a uma explicação « espiritual » dos textos.
A Providentissimus Deus não envereda por este caminho. Pelo contrário, a Encíclica convida insistentemente os exegetas católicos a adquirirem uma verdadeira competência científica, de modo a superarem os seus adversários no terreno dos mesmos. « O primeiro » meio de defesa, diz ela, « encontra-se no estudo das línguas antigas do Oriente, bem como no exercício da crítica científica » (E.B., 118). A Igreja não tem medo da crítica científica. Ela só teme as opiniões preconcebidas, que têm a presunção de se fundar na ciência mas que, na realidade, fazem sair sub-repticiamente a ciência do seu domínio.
Cinquenta anos mais tarde, na Divino afflante Spiritu, o Papa Pio XII pode notar a fecundidade das directrizes dadas pela Providentissimus Deus: « Graças a um melhor conhecimento das línguas bíblicas e de tudo o que diz respeito ao Oriente, ... numerosas questões levantadas no tempo de Leão XIII contra a autenticidade, a antiguidade, a integridade e o valor histórico dos Livros Sagrados ... encontram-se hoje esclarecidas e resolvidas » (E.B., 546). O trabalho dos exegetas católicos, « que fizeram um uso correcto das armas intelectuais utilizadas pelos seus adversários » (n. 562), tinha dado frutos. E é precisamente por esta razão que a Divino afflante Spiritu se mostra menos preocupada do que a Providentissimus Deus com o combate contra as posições da exegese racionalista.
5. Mas tinha-se tornado necessário responder aos ataques provenientes dos partidários de uma exegese chamada « mística » (n. 552), que procuravam fazer condenar pelo Magistério os esforços da exegese científica. Como responde a Encíclica? Ela teria podido limitar-se a salientar a utilidade e mesmo a necessidade destes esforços para a defesa da fé, o que teria favorecido uma espécie de dicotomia entre a exegese científica, destinada ao uso externo, e a interpretação espiritual, reservada ao uso interno. Na Divino afflante Spiritu, Pio XII evitou deliberadamente enveredar por este caminho. Pelo contrário, ele reivindicou a estreita união das duas iniciativas, por um lado salientando o alcance « teológico » do sentido literal, metodologicamente definido (E.B., 251), por outro lado, afirmando que, para poder ser reconhecido como sentido de um texto bíblico, o sentido espiritual deve apresentar garantias de autenticidade. Uma simples inspiração subjectiva não é suficiente. Deve-se poder mostrar que se trata de um sentido « querido por Deus mesmo », de um significado espiritual « dado por Deus » ao texto inspirado (E.B., 552-553). A determinação do sentido espiritual é da competência, pois, também ela, do domínio da ciência exegética.
Verificamos assim que, apesar da grande diversidade das dificuldades a enfrentar, as duas Encíclicas se encontram perfeitamente no nível mais profundo. Elas rejeitam, tanto uma como a outra, a ruptura entre o humano e o divino, entre a investigação científica e o olhar da fé, entre o sentido literal e o sentido espiritual. Mostram-se, além disso, em plena harmonia com o mistério da Encarnação.
II. Harmonia entre a exegese católica e o Mistério da Encarnação
6. A estreita relação que une os textos bíblicos inspirados no mistério da Encarnação foi expressa pela Encíclica Divino afflante Spiritu nos termos seguintes: « Como o Verbo substancial de Deus se fez semelhante aos homens em tudo, excepto o pecado, assim também a palavra de Deus, expressa em língua humana, se assemelhou em tudo à linguagem humana, excluso o erro » (E.B., 559). Retomada quase literalmente pela Constituição conciliar Dei Verbum (n. 13), esta afirmação põe em luz um paralelismo rico de significado.
E verdade que o facto de as palavras de Deus terem sido postas por escrito, graças ao carisma da inspiração relativa à Sagrada Escritura, foi um primeiro passo para a Encarnação do Verbo de Deus. Estas palavras escritas constituíram, de facto, um meio estável de comunicação e de comunhão entre o povo eleito e o seu único Senhor. Por outro lado, é graças ao aspecto profético destas palavras que foi possível reconhecer o cumprimento do desígnio de Deus, quando « o Verbo Se fez homem e habitou entre nós » (Jo 1,14). Depois da glorificação celeste da humanidade do Verbo feito homem, é ainda graças a palavras escritas que a sua passagem entre nós permanece testificada de maneira estável. Unidos aos escritos inspirados da Primeira Aliança, os escritos inspirados da Nova Aliança constituem um meio verificável de comunicação e de comunhão entre o povo crente e Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Este meio não pode certamente ser separado do sopro de vida espiritual, que jorrou do Coração de Jesus crucificado e que se propaga graças aos sacramentos da Igreja. Ele tem, contudo, a sua consistência própria, precisamente a de um texto escrito, que merece crédito.
7. Por conseguinte, as duas Encíclicas solicitam os exegetas católicos a permanecerem em plena harmonia com o mistério da Encarnação, mistério de união do divino e do humano, numa existência histórica inteiramente determinada. A existência terrena de Jesus não se define apenas com lugares e datas do início do século I na Judeia e na Galileia, mas também com a sua radicação na longa história de um pequeno povo do antigo Próximo Oriente, com as suas fraquezas e as suas grandezas, com os seus homens de Deus e os seus pecadores, com a sua lenta evolução cultural e as suas transformações políticas, com as suas derrotas e as suas vitórias, com as suas aspirações à paz e ao reino de Deus. A Igreja de Cristo toma a sério o realismo da Encarnação e é por este motivo que ela atribui uma grande importância ao estudo « histórico-crítico » da Bíblia. Longe de a reprovar, como teriam querido os partidários da exegese « mística », os meus predecessores aprovaram-na vigorosamente. « Artis criticae disciplinam escrevia Leão XIII , quippe percipiendae penitus hagiographorum sententiae perutilem, Nobis vehementer probantibus, nostri (exegetae, scilicet, catholici) excolant » (Carta Apostólica Vigilantiae, para a fundação da Comissão Bíblica, 30 de Outubro de 1902: E.B., 142). A mesma « veemência » na aprovação, o mesmo advérbio (« vehementer ») se encontram na Divino afflante Spiritu a propósito das investigações de crítica textual (cf. E.B., 548).
8. A Divino afflante Spiritu, como se sabe, recomendou particularmente aos exegetas o estudo dos géneros literários utilizados nos Livros Sagrados, chegando a dizer que a exegese católica deve « adquirir a convicção de que esta parte da sua tarefa não pode ser negligenciada, sem grave dano para a exegese católica » (E.B., 560). Esta recomendação parte da solicitude de compreender o sentido dos textos com toda a exactidão e precisão possíveis e, portanto, no seu contexto cultural histórico. Uma ideia falsa de Deus e da Encarnação leva um certo número de cristãos a tomar uma orientação oposta. Eles têm a tendência a crer que, sendo Deus o Ser absoluto, cada uma das suas palavras tem um valor absoluto, independente de todos os condicionamentos da linguagem humana. Não há motivos, segundo eles, para estudar este: condicionamentos para fazer distinções que relativizariam o alcance das palavras. Mas isto é iludir-se e recusar, na realidade, os mistérios de inspiração relativa à Sagrada Escritura e da Encarnação aderindo a uma falsa noção do Absoluto. O Deus da Bíblia não um Ser absoluto que, destruindo tudo aquilo que toca, suprimiria todas as diferenças e todos os cambiantes. Ele é, pelo contrário, c Deus criador, que criou a admirável variedade dos seres « cada um segundo a sua espécie », como diz e repete a narração do Génesis (cf Gén, cap. 1). Longe de destruir as diferenças, Deus respeita-as e valoriza-as (cf 1 Cor 12,18.24.28). Quando se exprime em linguagem humana, Ele não dá a cada expressão um valor uniforme, mas utiliza-lhe os cambiantes possíveis com uma flexibilidade extrema, e aceita-lhe igualmente as limitações. É o que torna a tarefa dos exegetas tão complexa, tão necessária e tão apaixonante! Nenhum aspecto humano da linguagem pode ser negligenciado. Os progressos recentes das investigações linguísticas, literárias e hermenêuticas levaram a exegese bíblica a juntar, ao estudo dos géneros literários, muitos outros pontos de vista (retórica, narrativa, estruturalismo); outras ciências humanas, como a psicologia e a sociologia foram igualmente utilizadas. A tudo isto podem-se aplicar as recomendações dadas aos membros da Comissão Bíblica por Leão XIII: « Que eles não considerem alheio ao seu campo nada do que a investigação industriosa dos modernos tiver encontrado de novo; pelo contrário, que eles tenham o espírito alerta para adoptar sem demora o que cada momento traz de útil à exegese bíblica » (Vigilantiae: E.B., 140). O estudo dos condicionamentos humanos da palavra de Deus deve ser prosseguido com um interesse incessantemente renovado.
9. Contudo, este estudo não é suficiente. Para respeitar a coerência da fé da Igreja e da inspiração da Escritura, a exegese católica deve estar atenta a não se limitar aos aspectos humanos dos textos bíblicos. É preciso que também ajude o povo cristão a perceber mais nitidamente nestes textos a palavra de Deus, de maneira a acolherem-na melhor para viverem plenamente em comunhão com Deus. Para este fim, é evidentemente necessário que o próprio exegeta perceba nos textos a palavra divina, e isto não lhe é possível senão se o seu trabalho intelectual for alimentado por um impulso de vida espiritual.
Faltando este fundamento, a investigação exegética permanece incompleta; perde de vista a sua finalidade principal e limita-se a tarefas secundárias. Pode mesmo tornar-se uma espécie de evasão. O estudo científico apenas dos aspectos humanos dos textos pode fazer esquecer que a palavra de Deus convida cada um a sair de si mesmo para viver na fé e na caridade.
A encíclica Providentissimus Deus recordava, a este propósito, o carácter particular dos Livros Sagrados e a exigência que daí resulta para a sua interpretação: « Os Livros Sagrados declarava ela não podem ser comparados com os escritos ordinários mas, dado que foram ditados pelo próprio Espírito Santo e têm um conteúdo de extrema gravidade, misterioso e difícil sob muitos aspectos, precisamos sempre, para os compreender e os explicar, da vinda deste mesmo Espírito Santo, ou seja, da sua luz e da sua graça, que é evidentemente necessário pedir numa humilde oração e conservar mediante uma vida consagrada » (E.B., 89). Numa fórmula mais breve, tomada de Santo Agostinho, a Divino afflante Spiritu exprimia a mesma exigência: « Orent ut intellegant! » (E.B., 569).
Sim, para chegar a uma interpretação inteiramente válida das palavras inspiradas pelo Espírito Santo, é preciso que cada um seja guiado pelo Espírito Santo e, para isto, é necessário rezar, rezar muito, pedir na oração a luz interior do Espírito, e acolher docilmente esta luz, pedir o amor, o único que torna capaz de compreender a linguagem de Deus, que « é amor » (1 Jo 4,8.16). Durante o próprio trabalho de interpretação, é necessário manter-se o mais possível na presença de Deus.
10. A docilidade ao Espírito Santo produz e reforça outra disposição, necessária para a justa orientação da exegese: a fidelidade à Igreja. O exegeta católico não alimenta a ilusão individualista a qual leva a crer que, fora da comunidade dos crentes, se pode compreender melhor os textos bíblicos. O contrário é que é verdade, porque estes textos não foram dados aos investigadores individualmente, « para a satisfação da sua curiosidade ou para lhes fornecer assuntos de estudo e de investigação » (Divino afflante Spiritu: E.B., 566); eles foram confiados à comunidade dos crentes, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e guiar a vida de caridade. O respeito desta finalidade condiciona a validade da interpretação. A Providentissimus Deus recordou esta verdade fundamental e observou que, longe de impedir a investigação bíblica, o respeito deste elemento favorece-lhe o autêntico progresso (cf E.B., 108-109). É confortante verificar que estudos recentes de filosofia hermenêutica trouxeram uma confirmação a este modo de ver e que exegetas de diversas confissões trabalharam em perspectivas análogas, salientando, por exemplo, a necessidade de interpretar cada texto bíblico como fazendo parte do cânon das Escrituras reconhecido pela Igreja, ou estando mais atentos aos contributos da exegese patrística.
Ser fiel à Igreja significa, com efeito, situar-se resolutamente na corrente da grande Tradição que, sob a orientação do Magistério, certo duma assistência especial do Espírito Santo, reconheceu os escritos canónicos como palavra dirigida por Deus ao seu povo e nunca cessou de os meditar e de descobrir as suas inesgotáveis riquezas. O Concílio Vaticano II ainda afirmou: « Todas estas coisas, referentes à interpretação da Escritura, estão sujeitas, em última análise, ao juízo da Igreja, que exerce o divino mandato e o ministério de guardar a palavra de Deus » (Dei Verbum, 12).
Não é menos verdade é ainda o Concilio que o declara, tomando uma afirmação da Providentissimus Deus que « é dever dos exegetas trabalhar... para entenderem e exporem perfeitamente o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, como por meio dum estudo preparatório, amadureça o juizo da Igreja » (Dei Verbum, 12; cf Providentissimus Deus: E.B., 109: « ut, quasi praeparato studio, iudicium Ecclesiae maturetur »).
11. Para desempenharem melhor esta tarefa edesial muito importante, os exegetas devem ter a peito permanecer próximos da pregação da palavra de Deus, quer consagrando uma parte do seu tempo a este ministério, quer mantendo relações com aqueles que o exercem e ajudando-os com publicações de exegese pastoral (cf. Divino afflante Spiritu, E.B., 551). Eles evitarão, assim, de se perderem nos meandros duma investigação científica abstracta, que os afastaria do verdadeiro sentido das Escrituras. Com efeito, este sentido não é separável da finalidade dos mesmos, a qual consiste em pôr os crentes em relação pessoal com Deus.
III. O novo documento da Comissão Bíblica
12. Nesta perspectiva a Providentissimus Deus afirmava « um vasto campo de investigação está aberto ao trabalho pessoal de cada exegeta » (E.B., 109). Cinquenta anos mais tarde, a Divino afflante Spiritu renovava, em termos diferentes, a mesma verificação estimulante: « Permanecem, pois, muitos pontos, e alguns muito importantes, na discussão e na explicação dos quais a penetração do espírito e o talento dos exegetas católicos podem e devem exercer-se livremente » (E.B., 565).
O que era verdade em 1943 ainda o é nos nossos dias, porque o progresso das investigações trouxe soluções para certos problemas e, ao mesmo tempo, novas questões a estudar. Na exegese, como noutras ciências, quanto mais se abrem as fronteiras do desconhecido, tanto mais se alarga o campo a explorar. Menos de cinco anos após a publicação da Divino afflante Spiritu, a descoberta dos manuscritos de Qumrân iluminava com uma nova claridade um grande número de problemas bíblicos e abria outros campos de investigações. Depois, muitas descobertas foram feitas e novos métodos de investigação e de análise foram elaborados.
13. Foi esta mudança de situação que tornou necessário um novo exame dos problemas. A Pontifícia Comissão Bíblica dedicou-se a esta tarefa e apresenta hoje o fruto do seu trabalho, intitulado A interpretação da Bíblia na Igreja.
O que impressionará à primeira vista neste documento, é a abertura de espírito com que foi concebido. Os métodos, as abordagens e as leituras usados hoje na exegese são examinados e, apesar de algumas reservas por vezes graves, que é necessário exprimir, reconhece-se, em quase cada um deles, a presença de elementos válidos para uma interpretação integral do texto bíblico.
Porque a exegese católica não tem um método de interpretação próprio e exclusivo mas, começando pela base histórico-crítica, isenta de pressupostos filosóficos ou de outros, contrários à verdade da nossa fé, ela utiliza todos os métodos actuais, procurando em cada um a « semente do Verbo ».
14. Outro traço característico desta síntese é o seu equilíbrio e a sua moderação. Na sua interpretação da Bíblia, sabe harmonizar a diacronia e a sincronia, reconhecendo que as duas se completam e são indispensáveis para fazer ressaltar toda a verdade do texto e para dar satisfação às legitimas exigências do leitor moderno.
Mais importante ainda, a exegese católica não dedica só a sua atenção aos aspectos humanos da revelação bíblica, o que é por vezes o erro do método histórico-crítico, nem apenas aos aspectos divinos, como quer o fundamentalismo; ela esforça-se em pôr em luz uns e outros, unidos na divina « condescendência » (Dei Verbum, 13), que está na base da Escritura inteira.
15. Poder-se-á, por fim, perceber o acento posto neste documento sobre o facto que a Palavra bíblica activa se dirige universalmente, no tempo e no espaço, a toda a humanidade. Se « as palavras de Deus [...] se tornam semelhantes à palavra humana » (Dei Verbum, 13), é para serem ouvidas por todos. Não devem permanecer distantes, « acima das tuas forças nem fora do teu alcance. [...] não, elas estão muito perto de ti: estão na tua boca e no teu coração; e tu as podes cumprir » (Dt 30, 11.14).
Tal é a finalidade da interpretação da Bíblia. Se a tarefa primária da exegese é alcançar o sentido autêntico do texto sagrado ou mesmo os seus diferentes sentidos, é preciso em seguida que ela comunique este sentido ao destinatário da Sagrada Escritura que é, se possível, toda a pessoa humana.
A Bíblia exerce a sua influência no curso dos séculos. Um processo constante de actualização adapta a interpretação à mentalidade e à linguagem contemporâneas. O carácter concreto e imediato da linguagem bíblica facilita grandemente esta adaptação, mas a sua radicação numa cultura antiga causa mais do que uma dificuldade. E preciso, pois, traduzir de novo e sem cessar o pensamento bíblico na linguagem contemporânea, para que ele seja expresso duma maneira adequada aos ouvintes. Esta tradução deve, contudo, ser fiel ao original, e não pode forçar os textos para os adaptar a uma leitura ou a uma tendência em voga num dado momento. E preciso mostrar todo o brilho da palavra de Deus, mesmo se ela é « expressa por línguas humanas » (Dei Verbum, 13).
A Bíblia está hoje difundida em todos os continentes e em todas as nações. Mas para que a sua acção seja profunda, é preciso que ela tenha ali uma inculturação segundo a índole própria de cada povo. Talvez as nações menos marcadas pelos desvios da civilização ocidental moderna compreendam mais facilmente a mensagem bíblica do que as que já são insensíveis à acção da Palavra de Deus, devido à secularização e aos excessos da demitização. Nos nossos tempos, é necessário um grande esforço, não só da parte dos sábios e dos pregadores, mas também dos divulgadores do pensamento bíblico: eles devem utilizar todos os meios possíveis e hoje há muitos! para que o alcance universal da mensagem bíblica seja largamente reconhecido e a sua eficácia salvífica possa manifestar-se em toda a parte.
Graças a este documento, a interpretação da Bíblia na Igreja poderá encontrar um novo impulso, para o bem do mundo inteiro, a fim de fazer resplandecer a verdade e exaltar a caridade, nas proximidades do Terceiro Milénio.
Conclusão
16. Ao terminar, tenho a alegria, como os meus predecessores Leão XIII e Pio XII, de poder apresentar aos exegetas católicos, e em particular a vós, membros da Pontifícia Comissão Bíblica, tanto agradecimentos como encorajamentos.
Agradeço-vos cordialmente o excelente trabalho que realizais ao serviço da palavra de Deus e do Povo de Deus: trabalho de investigação, de ensino e de publicação; ajuda dada à teologia, A. liturgia da Palavra e ao ministério da pregação; iniciativas que favorecem o ecumenismo e as boas relações entre cristãos e judeus; participação nos esforços da Igreja para responder às aspirações e às dificuldades do mundo moderno.
A isto, uno os meus calorosos encorajamentos para a nova etapa a percorrer. A complexidade crescente da tarefa requer esforços de todos e uma larga colaboração interdisciplinar. Num mundo onde a investigação científica adquire mais importância em numerosos campos, é indispensável que a ciência exegética se situe a um nível idêntico. E um dos aspectos da inculturação da fé que faz parte da missão da Igreja, em união com o acolhimento do mistério da Encarnação.
Jesus Cristo, Verbo de Deus Encarnado, vos guie nas vossas investigações, Ele que abriu o espírito dos seus discípulos à compreensão das Escrituras (Lc 24,45)! A Virgem Maria vos sirva de modelo não só pela sua generosa docilidade à palavra de Deus, mas também, e primeiramente, pelo seu modo de aceitar o que lhe tinha sido dito! São Lucas narra-nos que Maria meditava no seu coração as palavras divinas e os acontecimentos que se realizavam « symballousa en tê kardia autês! » (Lc 2,19). Pelo seu acolhimento da Palavra, ela é o Modelo e a Mãe dos discípulos (cf Jo 19, 27). Ensine-vos ela, pois, a acolher plenamente a Palavra de Deus, não só com a investigação intelectual, mas também com toda a vossa vida!
Para que o vosso trabalho e a vossa acção contribuam cada vez mais para fazer resplandescer a luz das Escrituras, dou-vos de todo o coração a minha Bênção Apostólica.
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Questo discorso è stato pronunciato il venerdì 23 aprile 1993 durante una udienza commemorativa del centenario dellEnciclica Providentissimus Deus di Leone XIII e del cinquantenario dellEnciclica Divino afflante Spiritu di Pio XII, entrambe consacrate alle questioni bibliche.
Ludienza ebbe luogo nella Sala Clementina del Palazzo Apostolico, alla presenza dei membri del Collegio Cardinalizio, del Corpo Diplomatico accreditato presso la Santa Sede, della Pontificia Commissione Biblica e del Corpo Professorale del Pontificio Istituto Biblico.
Nel corso delludienza, il Cardinale J. Ratzinger presentò al Santo Padre il documento della Commissione Biblica sullinterpretazione della Bibbia nella Chiesa.
Signori Cardinali,
Signori Capi delle Missioni Diplomatiche,
Signori Membri della Pontificia Commissione Biblica,
Signori Professori del Pontificio Istituto Biblico,
1. Ringrazio di tutto cuore il Cardinale Ratzinger dei sentimenti che ha appena espresso presentandomi il documento elaborato dalla Pontificia Commissione Biblica sullinterpretazione della Bibbia nella Chiesa. Con gioia accolgo questo documento, frutto di un lavoro collegiale intrapreso per vostra iniziativa, Signor Cardinale, e portato avanti con perseveranza per diversi anni. Esso risponde a una preoccupazione che mi sta a cuore, poiché linterpretazione della Sacra Scrittura è di una importanza capitale per la fede cristiana e per la vita della Chiesa. «Nei libri sacri, infatti come ci ha così ben ricordato il Concilio , il Padre che è nei cieli viene con molta amorevolezza incontro ai suoi figli ed entra in conversazione con loro; nella parola di Dio poi è insita tanta efficacia e potenza, da essere sostegno e vigore della Chiesa, e per i figli della Chiesa saldezza della fede, cibo dellanima, sorgente pura e perenne della vita spirituale» (Dei Verbum, n. 21). Il modo di interpretare i testi biblici per gli uomini e le donne di oggi ha delle conseguenze dirette sul loro rapporto personale e comunitario con Dio, ed è anche strettamente legato alla missione della Chiesa. Si tratta di un problema vitale che meritava tutta la vostra attenzione.
2. Il vostro lavoro si conclude in un momento molto opportuno, perché mi offre loccasione di celebrare con voi due anniversari ricchi di significato: il centenario dellEnciclica Providentissimus Deus, e il cinquantenario dellEnciclica Divino afflante Spiritu, entrambe consacrate alle questioni bibliche. Il 18 novembre 1893 Papa Leone XIII, molto attento ai problemi intellettuali, pubblicava la sua enciclica sugli studi della Sacra Scrittura, al fine, scriveva, «di stimolarli e raccomandarli» e anche di «orientarli in una maniera che corrisponda meglio ai bisogni dei tempi» (Enchiridion Biblicum, n. 82). Cinquantanni dopo, Papa Pio XII offriva agli esegeti cattolici, nella sua enciclica Divino afflante Spiritu, nuovi incoraggiamenti e nuove direttive. Nel frattempo, il Magistero pontificio aveva manifestato la propria attenzione costante ai problemi scritturistici attraverso numerosi interventi. Nel 1902, Leone XIII creava la Commissione Biblica; nel 1909, Pio X fondava lIstituto Biblico. Nel 1920, Benedetto XV celebrava il 1500° anniversario della morte di San Girolamo con unenciclica sullinterpretazione della Bibbia. Il vivo impulso dato così agli studi biblici ha trovato piena conferma nel Concilio Vaticano II cosicché tutta la Chiesa ne ha tratto beneficio. La Costituzione Dogmatica Dei Verbum illumina lopera degli esegeti cattolici e invita i Pastori e i fedeli a alimentarsi più assiduamente della parola di Dio contenuta nelle Scritture.
Desidero oggi mettere in risalto alcuni aspetti dellinsegnamento di queste due encicliche e la validità permanente del loro orientamento attraverso circostanze mutevoli al fine di poter meglio beneficiare del loro contributo.
I. Dalla Providentissimus Deus alla Divino afflante Spiritu
3. In primo luogo, si nota fra questi due documenti unimportante differenza. Si tratta della parte polemica o, più precisamente, apologetica delle due encicliche. Infatti, luna e laltra manifestano la preoccupazione di rispondere agli attacchi contro linterpretazione cattolica della Bibbia, ma questi attacchi non andavano nella stessa direzione. La Providentissimus Deus, da una parte, vuole soprattutto proteggere linterpretazione cattolica della Bibbia dagli attacchi della scienza razionalista; dallaltra, la Divino afflante Spiritu si preoccupa piuttosto di difendere linterpretazione cattolica dagli attacchi che si oppongono allutilizzazione della scienza da parte degli esegeti e che vogliono imporre uninterpretazione non scientifica, cosiddetta spirituale, delle Sacre Scritture.
Questo cambiamento radicale della prospettiva era dovuto, evidentemente, alle circostanze. La Providentissimus Deus fu pubblicata in unepoca segnata da forti polemiche contro la fede della Chiesa. Lesegesi liberale forniva a queste polemiche un sostegno importante, poiché essa utilizzava tutte le risorse delle scienze, dalla critica testuale alla geologia, passando per la filologia la critica letteraria, la storia delle religioni, larcheologia e altre discipline ancora. Al contrario, la Divino afflante Spiritu venne pubblicata poco tempo dopo una polemica del tutto differente, condotta, soprattutto in Italia, contro lo studio scientifico della Bibbia. Un opuscolo anonimo era stato ampiamente diffuso per mettere in guardia contro ciò che esso descriveva come un «gravissimo pericolo per la Chiesa e per le anime: il sistema critico-scientifico nello studio e nellinterpretazione della Sacra Scrittura, le sue funeste deviazioni e le sue aberrazioni».
4. Nelluno e nellaltro caso, la reazione del Magistero fu significativa, poiché, invece di attenersi a una risposta puramente difensiva, esso andava a fondo del problema e manifestava così notiamolo subito la fede della Chiesa nel mistero dellIncarnazione.
Contro le offensive dellesegesi liberale, che presentava le sue affermazioni come delle conclusioni fondate su dati acquisiti dalla scienza, si sarebbe potuto reagire lanciando un anatema sullutilizzazione delle scienze nellinterpretazione della Bibbia e ordinando agli esegeti cattolici di attenersi a una spiegazione spirituale dei testi.
La Providentissimus Deus non intraprende questa strada. Al contrario, lenciclica invita insistentemente gli esegeti cattolici ad acquisire una autentica competenza scientifica in modo da superare i propri avversari sul loro stesso terreno. «Il primo» modo di difesa, essa dice, «si trova nello studio delle antiche lingue dellOriente così come nellesercizio della critica scientifica» (EB 118). La Chiesa non teme la critica scientifica. Essa diffida solamente delle opinioni preconcette che pretendono di fondarsi sulla scienza ma che, in realtà, fanno uscire subdolamente la scienza dal suo campo.
Cinquantanni dopo, nella Divino afflante Spiritu, Papa Pio XII può costatare la fecondità delle direttive offerte dalla Providentissimus Deus: «Grazie a una migliore conoscenza delle lingue bibliche e di tutto ciò che riguarda lOriente, un buon numero di questioni sollevate al tempo di Leone XIII contro lautenticità, lantichità, lintegrità e il valore storico dei Libri Sacri si trovano oggi sciolte e risolte» (EB 546). Il lavoro degli esegeti cattolici, «che hanno fatto un uso corretto degli strumenti intellettuali utilizzati dai loro avversari» (n. 562), aveva portato i suoi frutti. Ed è proprio per questo motivo che la Divino afflante Spiritu si mostra meno preoccupata che non la Providentissimus Deus per le offensive contro le posizioni dellesegesi razionalista.
5. Ma era divenuto necessario rispondere agli attacchi giunti da parte dei sostenitori di unesegesi cosiddetta mistica (n. 552), che cercavano di far condannare dal Magistero gli sforzi dellesegesi scientifica. Come risponde lenciclica? Essa avrebbe potuto limitarsi a sottolineare lutilità e finanche la necessità di questi sforzi per la difesa della fede, il che avrebbe favorito una sorta di dicotomia fra lesegesi scientifica, destinata alluso esterno, e linterpretazione spirituale, riservata alluso interno. Nella Divino afflante Spiritu, Pio XII ha deliberatamente evitato di procedere in questa direzione. Egli ha al contrario rivendicato la stretta unione fra i due procedimenti, da una parte sottolineando la portata «teologica» del senso letterale, metodicamente definito (EB 551), dallaltra, affermando che, per poter essere riconosciuto quale senso di un testo biblico, il senso spirituale deve presentare delle garanzie di autenticità. Una semplice ispirazione soggettiva non è sufficiente. Si deve poter dimostrare che si tratta di un senso «voluto da Dio stesso», di un significato spirituale «dato da Dio» al testo ispirato (EB 552-553). La determinazione del senso spirituale appartiene dunque, anchessa, al campo della scienza esegetica.
Costatiamo così che, nonostante la grande diversità delle difficoltà da affrontare, le due encicliche si riuniscono perfettamente a livello più profondo. Esse rifiutano, sia luna che laltra, la rottura tra lumano e il divino, tra la ricerca scientifica e lo sguardo della fede, fra il senso letterale e il senso spirituale. Esse si mostrano su quel punto pienamente in armonia con il mistero dellIncarnazione.
II. Armonia fra lesegesi cattolica e il mistero dellincarnazione
6. Lo stretto rapporto che unisce i testi biblici ispirati al mistero dellIncarnazione è stato espresso dallenciclica Divino afflante Spiritu nei seguenti termini: «Così come la Parola sostanziale di Dio si è fatta simile agli uomini in tutti i punti, eccetto il peccato, così le parole di Dio, espresse in lingue umane, si sono fatte simili al linguaggio umano in tutti i punti, eccetto lerrore» (EB 559). Ripresa quasi letteralmente dalla Costituzione conciliare Dei Verbum (n. 13), questa affermazione mette in luce un parallelismo ricco di significato.
È vero che mettere per iscritto le parole di Dio, grazie al carisma dellispirazione scritturale, costituiva un primo passo verso lIncarnazione del Verbo di Dio. Queste parole scritte costituivano, infatti, un duraturo mezzo di comunicazione e di comunione fra il popolo eletto e il suo unico Signore. Daltra parte, è grazie allaspetto profetico di queste parole che è stato possibile riconoscere il compimento del disegno di Dio, quando «il Verbo si fece carne e venne ad abitare in mezzo a noi» (Gv 1, 14). Dopo la glorificazione celeste dellumanità del Verbo fatto carne, è ancora grazie a delle parole scritte che il suo passaggio fra noi rimane attestato in modo duraturo. Uniti agli scritti ispirati della Prima Alleanza, gli scritti ispirati della Nuova Alleanza costituiscono un mezzo verificabile di comunicazione e di comunione fra il popolo credente e Dio, Padre, Figlio e Spirito Santo. Questo mezzo non può certamente essere separato dal fiume di vita spirituale che scaturisce dal Cuore di Gesù crocifisso e che si propaga grazie ai sacramenti della Chiesa. Esso ha nondimeno una sua propria consistenza, quella, propriamente, di un testo scritto, che fa fede.
7. Di conseguenza, le due encicliche richiedono agli esegeti cattolici di restare in piena armonia con il mistero dellIncarnazione, mistero dunione del divino e dellumano in unesistenza storica assolutamente determinata. Lesistenza terrena di Gesù non viene definita soltanto tramite luoghi e date dellinizio del primo secolo in Giudea e in Galilea, ma anche tramite il suo radicamento nella lunga storia di un piccolo popolo del Vicino Oriente antico, con le sue debolezze e le sue grandezze, con i suoi uomini di Dio e i suoi peccatori, con la sua lenta evoluzione culturale ed i suoi mutamenti politici, con le sue sconfitte e le sue vittorie, con le sue aspirazioni alla pace e al regno di Dio. La Chiesa di Cristo prende sul serio il realismo dellIncarnazione ed è per questa ragione che essa attribuisce una grande importanza allo studio storico-critico della Bibbia. Lungi dal riprovarla, come avrebbero voluto i sostenitori dellesegesi mistica, i miei predecessori lhanno vigorosamente approvata. «Artis criticae disciplinam scriveva Leone XIII quippe percipiendae penitus hagiographorum sententiae perutilem, Nobis vehementer probantibus, nostri (exegetae, scilicet, catholici) excolant» (Lettera apostolica Vigilantiae, per la fondazione della Commissione Biblica, 30 ottobre 1902, EB 142). La stessa «veemenza» nellapprovazione, lo stesso avverbio (vehementer) si ritrovano nella Divino afflante Spiritu a proposito delle ricerche di critica testuale (cf. EB 548).
8. La Divino afflante Spiritu, come è noto, ha particolarmente raccomandato agli esegeti lo studio dei generi letterari utilizzati nei libri sacri, giungendo ad affermare che lesegeta cattolico deve «acquisire la convinzione che questa parte del suo compito non può essere trascurata senza un grave danno per lesegesi cattolica» (EB 560). Questa raccomandazione si basa sulla preoccupazione di comprendere il senso dei testi con tutta lesattezza e la precisione possibili e, dunque, nel loro contesto culturale storico. Una falsa idea di Dio e dellIncarnazione spinge un certo numero di cristiani a prendere un orientamento opposto. Essi hanno tendenza a credere che, essendo Dio lEssere assoluto, ognuna delle sue parole abbia un valore assoluto, indipendente da tutti i condizionamenti del linguaggio umano. Non vi è quindi spazio, secondo costoro, per studiare questi condizionamenti al fine di operare delle distinzioni che relativizzerebbero la portata delle parole. Ma questo significa illudersi e rifiutare, in realtà, i misteri dellispirazione scritturale e dellIncarnazione, rifacendosi ad una falsa nozione dellAssoluto. Il Dio della Bibbia non è un Essere assoluto che, schiacciando tutto quello che tocca, sopprimerebbe tutte le differenze e tutte le sfumature. È al contrario il Dio creatore, che ha creato la stupefacente varietà degli esseri «ognuno secondo la propria specie», come afferma e riporta il racconto della Genesi (cf. Gn, cap. 1). Lungi dallannullare le differenze, Dio le rispetta e le valorizza (cf. 1 Cor 12, 18. 24. 28). Quando si esprime in un linguaggio umano, egli non dà ad ogni espressione un valore uniforme, ma ne utilizza le possibili sfumature con estrema flessibilità, e ne accetta anche le limitazioni. È questo che rende il compito degli esegeti così complesso, così necessario e così appassionante! Nessuno degli aspetti umani del linguaggio può essere trascurato. I recenti progressi delle ricerche linguistiche, letterarie ed ermeneutiche hanno portato lesegesi biblica ad aggiungere allo studio dei generi letterari molti altri punti di vista (retorico, narrativo, strutturalista); altre scienze umane, come la psicologia e la sociologia, sono state parimenti accolte per dare il loro contributo. A tutto questo può essere applicata la consegna che Leone XIII affidava ai membri della Commissione Biblica: «Che essi non stimino estraneo alle loro competenze nulla di ciò che la ricerca industriosa dei moderni avrà trovato di nuovo; al contrario, mantengano lo spirito allerta per adottare senza ritardi quello che ogni momento porta di utile allesegesi biblica» (Vigilantiae, EB 140). Lo studio dei condizionamenti umani della parola di Dio deve essere perseguito con un interesse incessantemente rinnovato.
9. Tuttavia, questo studio non è sufficiente. Per rispettare la coerenza della fede della Chiesa e dellispirazione della Scrittura, lesegesi cattolica deve essere attenta a non attenersi agli aspetti umani dei testi biblici. Occorre che essa, anche e soprattutto, aiuti il popolo cristiano a percepire in modo più nitido la parola di Dio in questi testi, in modo da accoglierla meglio, per vivere pienamente in comunione con Dio.
A tal fine è evidentemente necessario che lo stesso esegeta percepisca nei testi la parola divina, e questo non gli è possibile che nel caso in cui il suo lavoro intellettuale venga sostenuto da uno slancio di vita spirituale.
In mancanza di questo sostegno, la ricerca esegetica resta incompleta; essa perde di vista la sua finalità principale e si confina in compiti secondari. Essa può anche diventare una sorta di evasione. Lo studio scientifico dei soli aspetti umani dei testi può far dimenticare che la parola di Dio invita ognuno ad uscire da se stesso per vivere nella fede e nella carità.
Lenciclica Providentissimus Deus ricordava, a questo proposito, il carattere particolare dei Libri Sacri e lesigenza che ne risulta per la loro interpretazione: «I Libri Sacri dichiarava non possono essere assimilati agli scritti ordinari, ma, essendo stati dettati dallo stesso Spirito Santo e avendo un contenuto di estrema gravità, misterioso e difficile sotto molti aspetti, noi abbiamo sempre bisogno, per comprenderli e spiegarli, della venuta dello stesso Spirito Santo, ovvero della sua luce e della sua grazia, che bisogna certamente domandare in unumile preghiera e preservare attraverso una vita santificata» (EB 89). In una formula più breve, presa in prestito da S. Agostino, la Divino afflante Spiritu esprimeva la stessa esigenza: «Orent ut intellegant!» (EB 569).
Sì, per arrivare ad uninterpretazione pienamente valida delle parole ispirate dallo Spirito Santo, dobbiamo noi stessi essere guidati dallo Spirito Santo, per questo, bisogna pregare, pregare molto, chiedere nella preghiera la luce interiore dello Spirito e accogliere docilmente questa luce, chiedere lamore, che solo rende capaci di comprendere il linguaggio di Dio, che «è amore» (1 Gv 4, 8. 16). Durante lo stesso lavoro di interpretazione, occorre mantenersi il più possibile in presenza di Dio.
10. La docilità allo Spirito Santo produce e rafforza unaltra disposizione, necessaria per il giusto orientamento dellesegesi: la fedeltà alla Chiesa. Lesegeta cattolico non nutre lillusione individualista che porta a credere che, al di fuori della comunità dei credenti, si possa comprendere meglio i testi biblici. È vero invece il contrario, poiché questi testi non sono stati dati ai singoli ricercatori «per soddisfare la loro curiosità o per fornire loro degli argomenti di studio e di ricerca» (Divino afflante Spiritu, EB 566) essi sono stati affidati alla comunità dei credenti, alla Chiesa di Cristo, per alimentare la fede e guidare la vita di carità. Il rispetto di questa finalità condiziona la validità dellinterpretazione. La Providentissimus Deus ha ricordato questa verità fondamentale e ha osservato che, lungi dallostacolare la ricerca biblica, il rispetto di questo dato ne favorisce lautentico progresso (cf. EB 108-109). È riconfortante constatare che dei recenti studi di filosofia ermeneutica hanno portato una conferma a questa visione delle cose, e che esegeti di diverse confessioni hanno lavorato in analoghe prospettive, sottolineando, per esempio, la necessità di interpretare ogni testo biblico come facente parte del Canone delle Scritture riconosciuto dalla Chiesa, o essendo più attenti agli apporti dellesegesi patristica.
Essere fedeli alla Chiesa, significa, infatti, situarsi risolutamente nella corrente della grande Tradizione che, sotto la guida del Magistero, assicurato di unassistenza speciale dello Spirito Santo, ha riconosciuto gli scritti canonici come parola rivolta da Dio al suo popolo, e non ha mai cessato di meditarli e di scoprirne le inesauribili ricchezze. Il Concilio Vaticano II lo ha ribadito: «Tutto questo, infatti, che concerne il modo di interpretare la Scrittura, è sottoposto in ultima istanza al giudizio della Chiesa, la quale adempie il divino mandato e ministero di conservare e interpretare la parola di Dio» (Dei Verbum, n. 12).
E non è meno vero è ancora il Concilio che lo sostiene, riprendendo unaffermazione della Providentissimus Deus che «è compito degli esegeti contribuire (...) alla più profonda intelligenza ed esposizione del senso della Sacra Scrittura, affinché, con studi in qualche modo preparatori, si maturi il giudizio della Chiesa» (Dei Verbum, n. 12: cf. Providentissimus Deus, EB 109: «ut, quasi praeparato studio, judicium Ecclesiae maturetur»).
11. Per meglio adempiere questo compito ecclesiale molto importante, gli esegeti avranno a cuore di rimanere vicini alla predicazione della parola di Dio, sia consacrando una parte del loro tempo a questo ministero, sia intrattenendo delle relazioni con coloro che lo esercitano e aiutandoli con pubblicazioni di esegesi pastorale (cf. Divino afflante Spiritu, EB 551). Eviteranno così di perdersi nei meandri di una ricerca scientifica astratta che li allontanerebbe dal vero senso delle Scritture. Infatti, questo senso non è separabile dalla loro finalità, che è di mettere i credenti in rapporto personale con Dio.
III. Il nuovo documento della Commissione Biblica
12. In queste prospettive lo affermava la Providentissimus Deus «un vasto campo di ricerca è aperto al lavoro personale di ciascun esegeta» (EB 109). Cinquanta anni dopo, la Divino afflante Spiritu rinnovava, in termini differenti, la stessa stimolante constatazione: «restano dunque molti punti, e alcuni molto importanti, nella discussione e la spiegazione dei quali la profondità di spirito e il talento degli esegeti cattolici possono e devono esplicarsi liberamente» (EB 565).
Ciò che era vero nel 1943 rimane ancora tale ai nostri giorni, poiché il progresso delle ricerche ha portato soluzioni ad alcuni problemi e, allo stesso tempo, nuove questioni da esaminare. Nellesegesi, come nelle altre scienze, quanto più si fa avanzare la frontiera del non conosciuto, tanto più si allarga il campo da esplorare. Meno di cinque anni dopo la pubblicazione della Divino afflante Spiritu, la scoperta dei manoscritti di Qumran dava nuova luce a un grande numero di problemi biblici e apriva altri campi di ricerche. In seguito, molte scoperte sono state fatte e nuovi metodi di ricerca e di analisi sono stati approntati.
13. È questo cambiamento di situazione che ha reso necessario un nuovo esame dei problemi. La Pontificia Commissione Biblica si è ricollegata a questo compito e presenta oggi il frutto del suo lavoro, intitolato Linterpretazione della Bibbia nella Chiesa.
Ciò che colpirà a prima vista in questo documento, è lapertura di spirito con il quale è concepito. I metodi, gli approcci e le letture adoperati oggi nellesegesi sono esaminati e, malgrado alcune riserve a volte gravi che è necessario esprimere, si ammette, in quasi tutti, la presenza di elementi validi per uninterpretazione integrale del testo biblico.
Poiché lesegesi cattolica non ha un metodo di interpretazione proprio ed esclusivo, ma, partendo dalla base storico-critica, svincolata dai presupposti filosofici o altri contrari alla verità della nostra fede, essa beneficia di tutti i metodi attuali, cercando in ciascuno di essi il «seme del Verbo».
14. Un altro tratto caratteristico di questa sintesi è il suo equilibrio e la sua moderazione. Nella sua interpretazione della Bibbia essa sa armonizzare la diacronia e la sincronia riconoscendo che entrambe si completano e sono indispensabili per far emergere tutta la verità del testo e per venire incontro alle legittime esigenze del lettore moderno.
Ed è ancora più importante che lesegesi cattolica non rivolge la propria attenzione ai soli aspetti umani della rivelazione biblica, il che è a volte il torto del metodo storico-critico, né ai soli aspetti divini, come vuole il fondamentalismo, essa si sforza di mettere in luce gli uni e gli altri, uniti nella divina «condiscendenza» (Dei Verbum, 13), che è alla base di tutta la Scrittura.
15. Potremo infine percepire laccento posto in questo documento sul fatto che la Parola biblica attiva si rivolge universalmente, nel tempo e nello spazio, a tutta lumanità. Se «le parole di Dio (...) si sono fatte simili al linguaggio degli uomini» (Dei Verbum, 13), è per essere comprese da tutti. Esse non devono restare lontane «troppo» alte «per te, né troppo» lontane «da te. (...) Anzi, questa parola è molto vicina a te, è nella tua bocca e nel tuo cuore perché tu la metta in pratica» (Dt 30, 11. 14).
Questo è lo scopo dellinterpretazione della Bibbia. Se il compito principale dellesegesi è di raggiungere il senso autentico del testo sacro o i suoi differenti sensi, bisogna in seguito che essa comunichi questo senso al destinatario della Sacra Scrittura che è, se possibile, ogni persona umana.
La Bibbia esercita le sua influenza nel corso dei secoli. Un processo costante di attualizzazione adatta linterpretazione alla mentalità e al linguaggio contemporanei. Il carattere concreto e immediato del linguaggio biblico facilita grandemente questo adattamento, ma il suo radicamento in una cultura antica provoca molte difficoltà. Bisogna dunque costantemente ritradurre il pensiero biblico in un linguaggio contemporaneo, perché sia espresso in una maniera adatta agli uditori. Questa traduzione deve tuttavia essere fedele alloriginale, e non può forzare i testi per adattarli a una lettura o a un approccio in voga in un determinato momento. Bisogna mostrare tutto il fulgore della parola di Dio, anche se espressa «in parole umane» (Dei Verbum, n. 13).
La Bibbia è diffusa oggi in tutti i continenti e in tutte le nazioni. Ma affinché la sua azione sia profonda, bisogna che ci sia una inculturazione secondo il genio specifico di ogni popolo. Forse le nazioni meno segnate dalle deviazioni della moderna civiltà occidentale comprenderanno il messaggio biblico più facilmente di quelle che sono già quasi insensibili allazione della parola di Dio a causa della secolarizzazione e degli eccessi della demitologizzazione. Nella nostra epoca. è necessario un grande sforzo. non solo da parte dei sapienti e dei predicatori, ma anche da parte dei divulgatori del pensiero biblico: essi devono utilizzare tutti i mezzi possibili e ce ne sono molti oggi affinché la portata universale del messaggio biblico sia ampiamente riconosciuta e affinché la sua efficacia salvifica possa manifestarsi dappertutto.
Grazie a tale documento, linterpretazione della Bibbia nella Chiesa potrà trovare un nuovo slancio, per il bene del mondo intero, per far risplendere la verità e per esaltare la carità alle soglie del terzo millennio.
Conclusione
16. Concludendo, ho la gioia di poter porgere, così come miei predecessori Leone XIII e Pio XII, agli esegeti cattolici, e in particolare a voi, membri della Pontificia Commissione Biblica, allo stesso tempo ringraziamenti e incoraggiamenti. Vi ringrazio cordialmente per il lavoro eccellente che voi compite al servizio della parola di Dio e del popolo di Dio: lavoro di ricerca, dinsegnamento e di pubblicazione; aiuto apportato alla teologia, alla liturgia della Parola e al ministero della predicazione, iniziative che favoriscono lecumenismo e le buone relazioni tra cristiani e ebrei, partecipazione agli sforzi della Chiesa per rispondere alle aspirazioni e alle difficoltà del mondo moderno. A ciò aggiungo i miei calorosi incoraggiamenti per la nuova tappa da percorrere. La crescente complessità del compito richiede gli sforzi di tutti e una vasta collaborazione interdisciplinare. In un mondo dove la ricerca scientifica assume una sempre maggiore importanza in numerosi campi, è indispensabile che la scienza esegetica si situi a un livello adeguato. E uno degli aspetti dellinculturazione della fede che fa parte della missione della Chiesa, in sintonia con laccoglienza del mistero dellIncarnazione.
Che Cristo Gesù, Verbo di Dio incarnato, vi guidi nelle vostre ricerche, lui che ha aperto lo spirito dei suoi discepoli allintelligenza delle Scritture (Lc 24, 45)! Che la Vergine Maria vi serva da modello non solamente per la sua generosa docilità alla parola di Dio, ma anche, in primo luogo, per il suo modo di ricevere quello che Lui aveva detto! San Luca ci riferisce che Maria meditava in cuor suo le parole divine e gli avvenimenti che si compivano, «symballousa en tê kardia autês» (Lc 2, 19). Per la sua accoglienza della Parola, essa è il modello e la madre dei discepoli (cf. Gv 19, 27). Che Essa vi insegni ad accogliere pienamente la parola di Dio, non solo attraverso la ricerca intellettuale, ma anche in tutta la vostra vita!
Affinché il vostro lavoro e la vostra azione contribuiscano sempre più a far risplendere la luce delle Scritture, vi imparto di tutto cuore la mia Benedizione Apostolica.
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Messieurs les Cardinaux,
Messieurs les Chefs des Missions Diplomatiques,
Messieurs les membres de la Commission Biblique pontificale,
Messieurs les Professeurs de lInstitut Biblique pontifical,
1. De tout cur je remercie Monsieur le Cardinal Ratzinger des sentiments quil vient dexprimer en me présentant le document élaboré par la Commission Biblique pontificale sur linterprétation de la Bible dans lÉglise. Avec joie, jaccueille ce document, fruit dun travail collégial entrepris sur votre initiative, Monsieur le Cardinal, et poursuivi avec persévérance pendant plusieurs années. Il répond à une préoccupation qui me tient à cur, car linterprétation de la Sainte Ecriture est dune importance capitale pour la foi chrétienne et pour la vie de lÉglise. « Dans les Saints Livres, en effet comme nous la si bien rappelé le Concile , le Père qui est aux cieux vient avec tendresse au-devant de ses enfants et entre en conversation avec eux; or, la force et la puissance contenues dans la parole de Dieu sont si grandes que celle-ci constitue pour lÉglise un point dappui plein de vigueur et pour les enfants de lÉglise la force de leur foi, la nourriture de leur âme, la source pure et permanente de leur vie spirituelle »[Dei Verbum, 21]. La façon dinterpréter les textes bibliques pour les hommes et les femmes daujourdhui a des conséquences directes sur leur relation personnelle et communautaire avec Dieu, et elle est aussi étroitement liée à la mission de lÉglise. Il sagit dun problème vital, qui méritait toute votre attention.
2. Votre travail sachève à un moment très opportun, car il me fournit loccasion de célébrer avec vous deux anniversaires riches de signification: le centenaire de lencyclique Providentissimus Deus, et le cinquantenaire de lencyclique Divino afflante Spiritu, lune et lautre consacrées aux questions bibliques. Le 18 novembre 1893, le Pape Léon XIII, très attentif aux problèmes intellectuels, publiait son encyclique sur les études dEcriture Sainte, dans le but, écrivait-il, « de les stimuler et de les recommander » et aussi de les « orienter dune manière qui corresponde mieux aux besoins de lépoque »[Enchiridion Biblicum, 82]. Cinquante ans plus tard, le Pape Pie XII donnait aux exégètes catholiques, dans son encyclique Divino afflante Spiritu, de nouveaux encouragements et de nouvelles directives. Entre temps, le Magistère pontifical avait manifesté son attention constante aux problèmes scripturaires par de nombreuses interventions. En 1902, Léon XIII créait la Commission Biblique; en 1909, Pie X fondait lInstitut Biblique. En 1920, Benoît XV célébrait le 1500e anniversaire de la mort de saint Jérôme par une encyclique sur linterprétation de la Bible [Spiritus Paraclitus]. La vive impulsion ainsi donnée aux études bibliques a trouvé sa pleine confirmation dans le IIe Concile du Vatican, de sorte que lÉglise tout entière en bénéficie. La Constitution dogmatique Dei Verbum éclaire le travail des exégètes catholiques et invite les pasteurs et les fidèles à se nourrir plus assidûment de la parole de Dieu contenue dans les Ecritures.
Je désire aujourdhui mettre en valeur
quelques aspects de lenseignement de ces deux encycliques
et la validité permanente de leur orientation à travers des
circonstances changeantes, afin de mieux profiter de leur apport.
I. De «Providentissimus Deus» à «Divino Afflante Spiritu»
3. En premier lieu, on note, entre ces deux documents, une différence importante. Il sagit de la partie polémique ou, plus exactement, apologétique des deux encycliques. En effet, lune et lautre manifestent le souci de répondre à des attaques contre linterprétation catholique de la Bible, mais ces attaques nallaient pas dans le même sens. Providentissimus Deus, dune part, veut surtout protéger linterprétation catholique de la Bible contre les attaques de la science rationaliste; dautre part, Divino afflante Spiritu se préoccupe davantage de défendre linterprétation catholique contre les attaques qui sopposent à lutilisation de la science par les exégètes et qui veulent imposer une interprétation non scientifique, dite « spirituelle », des Saintes Ecritures.
Ce changement radical de perspective était dû, évidemment, aux circonstances. Providentissimus Deus paraissait à une époque marquée par de virulentes polémiques contre la foi de lÉglise. Lexégèse libérale apportait à ces polémiques un appui important, car elle utilisait toutes les ressources des sciences, depuis la critique textuelle jusquà la géologie, en passant par la philologie, la critique littéraire, lhistoire des religions, larchéologie et dautres disciplines encore. Par contre, Divino afflante Spiritu était publiée peu de temps après une polémique toute différente menée, surtout en Italie, contre létude scientifique de la Bible. Un opuscule anonyme avait été largement diffusé pour mettre en garde contre ce quil décrivait comme « un très grave danger pour lÉglise et pour les âmes: le système critico-scientifique dans létude et linterprétation de la Sainte Ecriture, ses déviations funestes et ses aberrations ».
4. Dans lun et lautre cas, la réaction du Magistère fut significative, car, au lieu de sen tenir à une réponse purement défensive, il alla au fond du problème et manifesta ainsi notons-le demblée la foi de lÉglise dans le mystère de lIncarnation.
Contre les offensives de lexégèse libérale, qui présentait ses allégations comme des conclusions fondées sur des acquis de la science, on aurait pu réagir en jetant lanathème sur lutilisation des sciences dans linterprétation de la Bible et en ordonnant aux exégètes catholiques de sen tenir à une explication « spirituelle » des textes.
Providentissimus Deus ne sengage pas dans cette voie. Tout au contraire, lencyclique invite instamment les exégètes catholiques à acquérir une véritable compétence scientifique de façon à surpasser leurs adversaires sur leur propre terrain. « Le premier » moyen de défense, dit-elle, « se trouve dans létude des langues anciennes de lOrient ainsi que dans lexercice de la critique scientifique »[Enchiridion Biblicum3]. LEglise na pas peur de la critique scientifique. Elle se méfie seulement des opinions préconçues qui prétendent se fonder sur la science mais qui, en réalité, font subrepticement sortir la science de son domaine.
Cinquante ans plus tard, dans Divino afflante Spiritu, le Pape Pie XII peut constater la fécondité des directives données par Providentissimus Deus: « Grâce à une meilleure connaissance des langues bibliques et de tout ce qui concerne lOrient, ...un bon nombre des questions soulevées au temps de Léon XIII contre lauthenticité, lantiquité, lintégrité et la valeur historique des Saints Livres... se trouvent aujourdhui débrouillées et résolues »[Enchiridion Biblicum4]. Le travail des exégètes catholiques, « qui ont fait un usage correct des armes intellectuelles utilisées par leurs adversaires »[Enchiridion Biblicum5], avait porté ses fruits. Et cest précisément pour cette raison que Divino afflante Spiritu se montre moins préoccupée que Providentissimus Deus par le combat contre les positions de lexégèse rationaliste.
5. Mais il était devenu nécessaire de répondre aux attaques venues du côté des partisans dune exégèse soi-disant « mystique »[Enchiridion Biblicum6], qui cherchaient à faire condamner par le Magistère les efforts de lexégèse scientifique. Comment répond lencyclique? Elle aurait pu sen tenir à souligner lutilité et même la nécessité de ces efforts pour la défense de la foi, ce qui aurait favorisé une sorte de dichotomie entre lexégèse scientifique, destinée à lusage externe, et linterprétation spirituelle, réservée à lusage interne. Dans Divino afflante Spiritu, Pie XII a délibérément évité daller dans ce sens. Au contraire, il a revendiqué lunion étroite des deux démarches, dune part en soulignant la portée « théologique » du sens littéral, méthodiquement défini[Enchiridion Biblicum7], dautre part, en affirmant que, pouvoir être reconnu comme sens dun texte biblique, le sens spirituel doit présenter des garanties dauthenticité. Une simple inspiration subjective ne suffit pas. On doit pouvoir montrer quil sagit dun sens « voulu par Dieu lui-même », dune signification spirituelle « donnée par Dieu » au texte inspiré[Enchiridion Biblicum8]. La détermination du sens spirituel appartient donc, elle aussi, au domaine de la science exégétique.
Nous constatons ainsi que, malgré la grande
diversité des difficultés à affronter, les deux encycliques se
rejoignent parfaitement au niveau le plus profond. Elles refusent,
lune comme lautre, la rupture entre lhumain et
le divin, entre la recherche scientifique et le regard de la foi,
entre le sens littéral et le sens spirituel. Elles se montrent
par là pleinement en harmonie avec le mystère de lIncarnation.
II. Harmonie entre lexégèse catholique et le mystère de lIncarnation
6. Le rapport étroit qui unit les textes bibliques inspirés au mystère de lIncarnation a été exprimé par lencyclique Divino afflante Spiritu dans les termes suivants: « De même que la Parole substantielle de Dieu sest faite semblable aux hommes en tous points, excepté le péché, ainsi les paroles de Dieu, exprimées en des langues humaines, se sont faites semblables au langage humain en tous points, excepté lerreur »[Enchiridion Biblicum9]. Reprise presque littéralement par la Constitution conciliaire Dei Verbum[n. 13], cette affirmation met en lumière un parallélisme riche de signification.
Il est vrai que la mise par écrit des paroles de Dieu, grâce au charisme de linspiration scripturaire, était un premier pas vers lIncarnation du Verbe de Dieu. Ces paroles écrites constituaient, en effet, un moyen stable de communication et de communion entre le peuple élu et son unique Seigneur. Dautre part, cest grâce à laspect prophétique de ces paroles quil a été possible de reconnaître laccomplissement du dessein de Dieu, lorsque « le Verbe sest fait chair et a habité parmi nous »[11]. Après la glorification céleste de lhumanité du Verbe fait chair, cest encore grâce à des paroles écrites que son passage parmi nous reste attesté de manière stable. Unis aux écrits inspirés de la Première Alliance, les écrits inspirés de la Nouvelle Alliance constituent un moyen vérifiable de communication et de communion entre le peuple croyant et Dieu, Père, Fils et Esprit Saint. Ce moyen ne peut assurément pas être séparé du fleuve de vie spirituelle qui jaillit du Cur de Jésus crucifié et qui se propage grâce aux sacrements de lÉglise. Il a néanmoins sa consistance propre, celle, précisément, dun texte écrit, qui fait foi.
7. En conséquence, les deux encycliques demandent aux exégètes catholiques de rester en pleine harmonie avec le mystère de lIncarnation, mystère dunion du divin et de lhumain dans une existence historique tout à fait déterminée. Lexistence terrestre de Jésus ne se définit pas seulement par des lieux et des dates du début du 1er siècle en Judée et en Galilée, mais aussi par son enracinement dans la longue histoire dun petit peuple du proche-Orient ancien, avec ses faiblesses et ses grandeurs, avec ses hommes de Dieu et ses pécheurs, avec sa lente évolution culturelle et ses avatars politiques, avec ses défaites et ses victoires, avec ses aspirations à la paix et au règne de Dieu. LEglise du Christ prend au sérieux le réalisme de lIncarnation et cest pour cette raison quelle attache une grande importance à létude « historico-critique » de la Bible. Loin de la réprouver, comme lauraient voulu les partisans de lexégèse « mystique », mes prédécesseurs lont vigoureusement approuvée. « Artis criticae disciplinam écrivait Léon XIII , quippe percipiendae penitus hagiographorum sententiae perutilem, Nobis vehementer probantibus, nostri (exegetae, scilicet, catholici) excolant »[12]. La même « véhémence » dans lapprobation, le même adverbe (« vehementer ») se retrouvent dans Divino afflante Spiritu à propos des recherches de critique textuelle[13].
8. Divino afflante Spiritu, on le sait, a particulièrement recommandé aux exégètes létude des genres littéraires utilisés dans les Livres Saints, en allant jusquà dire que lexégèse catholique doit « acquérir la conviction que cette partie de sa tâche ne peut pas être négligée sans grave dommage pour lexégèse catholique »[14]. Cette recommandation part du souci de comprendre le sens des textes avec toute lexactitude et la précision possibles et, donc, dans leur contexte culturel historique. Une fausse idée de Dieu et de lIncarnation pousse un certain nombre de chrétiens à prendre une orientation opposée. Ils ont tendance à croire que, Dieu étant lÊtre absolu, chacune de ses paroles a une valeur absolue, indépendante de tous les conditionnements du langage humain. Il ny a donc pas lieu, selon eux, détudier ces conditionnements pour opérer des distinctions qui relativiseraient la portée des paroles. Mais cest là se faire illusion et refuser, en réalité, les mystères de linspiration scripturaire et de lIncarnation, en sattachant à une fausse notion de lAbsolu. Le Dieu de la Bible nest pas un Être absolu qui, écrasant tout ce quil touche, supprimerait toutes les différences et toutes les nuances. Il est au contraire le Dieu créateur, qui a créé létonnante variété des êtres « chacun selon son espèce », comme le dit et le répète le récit de la Genèse[15]. Loin danéantir les différences, Dieu les respecte et les valorise[16]. Lorsquil sexprime dans un langage humain, il ne donne pas à chaque expression une valeur uniforme, mais il en utilise les nuances possibles avec une souplesse extrême et il en accepte également les limitations. Cest ce qui rend la tâche des exégètes si complexe, si nécessaire et si passionnante! Aucun des aspects humains du langage ne peut être négligé. Les progrès récents des recherches linguistiques, littéraires et herméneutiques ont amené lexégèse biblique à ajouter à létude des genres littéraires beaucoup dautres points de vue (rhétorique, narratif, structuraliste); dautres sciences humaines, comme la psychologie et la sociologie, ont également été mises à contribution. A tout cela on peut appliquer la consigne que Léon XIII donnait aux membres de la Commission Biblique: « Quils nestiment étranger à leur domaine rien de ce que la recherche industrieuse des modernes aura trouvé de nouveau; bien au contraire, quils aient lesprit en éveil pour adopter sans retard ce que chaque moment apporte dutile à lexégèse biblique »[17]. Létude des conditionnements humains de la parole de Dieu doit être poursuivie avec un intérêt sans cesse renouvelé.
9. Cependant, cette étude ne suffit pas. Pour respecter la cohérence de la foi de lÉglise et de linspiration de lÉcriture, lexégèse catholique doit être attentive à ne pas sen tenir aux aspects humains des textes bibliques. Il lui faut aussi et surtout aider le peuple chrétien à percevoir plus nettement dans ces textes la parole de Dieu, de façon à mieux laccueillir, pour vivre pleinement en communion avec Dieu. A cette fin, il est évidemment nécessaire que lexégète lui-même perçoive dans les textes la parole divine et cela ne lui est possible que si son travail intellectuel est soutenu par un élan de vie spirituelle.
Faute de ce soutien, la recherche exégétique reste incomplète; elle perd de vue sa finalité principale et se confine en des tâches secondaires. Elle peut même devenir une sorte dévasion. Létude scientifique des seuls aspects humains des textes peut faire oublier que la parole de Dieu invite chacun à sortir de lui-même pour vivre dans la foi et dans la charité.
Lencyclique Providentissimus Deus rappelait, à ce propos, le caractère particulier des Livres Saints et lexigence qui en résulte pour leur interprétation: « Les Livres Saints, déclarait-elle, ne peuvent être assimilés aux écrits ordinaires, mais, puisquils ont été dictés par lEsprit Saint lui-même et ont un contenu dextrême gravité, mystérieux et difficile sous bien des aspects, nous avons toujours besoin, pour les comprendre et les expliquer, de la venue de ce même Esprit Saint, cest-à-dire de sa lumière et de sa grâce, quil faut assurément demander dans une humble prière et conserver par une vie sanctifiée »[18]. Dans une formule plus brève, empruntée à saint Augustin, Divino afflante Spiritu exprimait la même exigence: « Orent ut intellegant! »[19].
Oui, pour arriver à une interprétation pleinement valable des paroles inspirées par lEsprit Saint, il faut être soi-même guidé par lEsprit Saint et, pour cela, il faut prier, prier beaucoup, demander dans la prière la lumière intérieure de lEsprit et accueillir docilement cette lumière, demander lamour, qui seul rend capable de comprendre le langage de Dieu, qui « est amour »[20]. Durant le travail même dinterprétation, il faut se maintenir le plus possible en présence de Dieu.
10. La docilité à lEsprit Saint produit et renforce une autre disposition, nécessaire pour la juste orientation de lexégèse: la fidélité à lÉglise. Lexégète catholique ne nourrit pas lillusion individualiste qui porte à croire que, en dehors de la communauté des croyants, on peut mieux comprendre les textes bibliques. Cest le contraire qui est vrai, car ces textes nont pas été donnés aux chercheurs individuels « pour la satisfaction de leur curiosité ou pour leur fournir des sujets détude et de recherche »[21]; ils ont été confiés à la communauté des croyants, à lÉglise du Christ, pour nourrir la foi et guider la vie de charité. Le respect de cette finalité conditionne la validité de linterprétation. Providentissimus Deus a rappelé cette vérité fondamentale et a observé que, loin de gêner la recherche biblique, le respect de cette donnée en favorise lauthentique progrès[22]. Il est réconfortant de constater que des études récentes de philosophie herméneutique ont apporté une confirmation à cette façon de voir et que des exégètes de diverses confessions ont travaillé dans des perspectives analogues, en soulignant, par exemple, la nécessité dinterpréter chaque texte biblique comme faisant partie du Canon des Ecritures reconnu par lÉglise, ou en étant plus attentifs aux apports de lexégèse patristique.
Être fidèle à lÉglise, cela signifie, en effet, se situer résolument dans le courant de la grande Tradition qui, sous la conduite du Magistère, assuré dune assistance spéciale de lEsprit Saint, a reconnu les écrits canoniques comme parole adressée par Dieu à son peuple et na jamais cessé de les méditer et den découvrir les inépuisables richesses. Le IIe Concile du Vatican la encore affirmé: « Tout ce qui concerne la manière dinterpréter lÉcriture est finalement soumis au jugement de lÉglise, qui exerce le ministère et le mandat divinement reçus de garder la parole de Dieu et de linterpréter »[23].
Il nen reste pas moins cest encore le Concile qui le déclare, en reprenant une affirmation de Providentissimus Deus quil « appartient aux exégètes de sefforcer... de pénétrer et dexposer plus profondément le sens de la Sainte Ecriture, afin que, par leurs études en quelque sorte préparatoires, mûrisse le jugement de lÉglise »[24].
11. Pour mieux sacquitter de cette tâche
ecclésiale très importante, les exégètes auront à cur
de rester proches de la prédication de la parole de Dieu, soit
en consacrant une partie de leur temps à ce ministère, soit en
entretenant des relations avec ceux qui lexercent et en les
aidant par des publications dexégèse pastorale[25].
Ils éviteront ainsi de se perdre dans les méandres dune
recherche scientifique abstraite, qui les éloignerait du vrai
sens des Ecritures. En effet, ce sens nest pas séparable
de leur finalité, qui est de mettre les croyants en relation
personnelle avec Dieu.
III. Le nouveau document de la Commission Biblique
12. Dans ces perspectives Providentissimus Deus laffirmait « un vaste champ de recherche est ouvert au travail personnel de chaque exégète »[26]. Cinquante ans plus tard, Divino afflante Spiritu renouvelait, en termes différents, la même constatation stimulante: « Il reste donc beaucoup de points, et daucuns très importants, dans la discussion et lexplication desquels la pénétration desprit et le talent des exégètes catholiques peuvent et doivent sexercer librement »[27].
Ce qui était vrai en 1943 le demeure encore de nos jours, car le progrès des recherches a apporté des solutions à certains problèmes et, en même temps, de nouvelles questions à étudier. En exégèse, comme dans les autres sciences, plus on repousse les frontières de linconnu, plus on élargit le domaine à explorer. Moins de cinq ans après la publication de Divino afflante Spiritu, la découverte des manuscrits de Qumrân éclairait dun jour nouveau un grand nombre de problèmes bibliques et ouvrait dautres champs de recherches. Depuis, beaucoup de découvertes ont été faites et de nouvelles méthodes dinvestigation et danalyse ont été mises au point.
13. Cest ce changement de situation qui a rendu nécessaire un nouvel examen des problèmes. La Commission Biblique pontificale sest attelée à cette tâche et présente aujourdhui le fruit de son travail, intitulé «Linterprétation de la Bible dans lÉglise».
Ce qui frappera à première vue dans ce document, cest louverture desprit dans lequel il est conçu. Les méthodes, les approches et les lectures pratiquées aujourdhui dans lexégèse sont examinées et, malgré quelques réserves parfois graves quil est nécessaire dexprimer, lon admet, dans presque chacune delles, la présence déléments valables pour une interprétation intégrale du texte biblique.
Car lexégèse catholique na pas une méthode dinterprétation propre et exclusive, mais, en commençant par la base historico-critique, dégagée de présupposés philosophiques ou autres contraires à la vérité de notre foi, elle met à profit toutes les méthodes actuelles, en cherchant dans chacune la «semence du Verbe».
14. Un autre trait caractéristique de cette synthèse est son équilibre et sa modération. Dans son interprétation de la Bible, elle sait harmoniser la diachronie et la synchronie, en reconnaissant que les deux se complètent et sont indispensables pour faire ressortir toute la vérité du texte et pour donner satisfaction aux légitimes exigences du lecteur moderne.
Plus important encore, lexégèse catholique nattache pas son attention aux seuls aspects humains de la révélation biblique, ce qui est parfois le tort de la méthode historico-critique, ni aux seuls aspects divins, comme le veut le fondamentalisme; elle sefforce de mettre en lumière les uns et les autres, unis dans la divine «condescendance»[Dei Verbum, 13], qui est à la base de toute lÉcriture.
15. On pourra enfin percevoir laccent mis dans ce document sur le fait que la Parole biblique agissante sadresse universellement, dans le temps et dans lespace, à toute lhumanité. Si «les paroles de Dieu... se sont faites semblables au langage humain»[Dei Verbum, 13], cest pour être entendues par tous. Elles ne doivent pas rester lointaines, «au-delà de tes moyens ni hors de ton atteinte. ... Car la Parole est tout près de toi, elle est dans ta bouche et dans ton cur pour que tu la mettes en pratique»[Dt 30, 11. 14].
Tel est le but de linterprétation de la Bible. Si la tâche première de lexégèse est datteindre le sens authentique du texte sacré ou même ses différents sens, il faut ensuite quelle communique ce sens au destinataire de lÉcriture Sainte qui est, si possible, toute personne humaine.
La Bible exerce son influence au cours des siècles. Un processus constant dactualisation adapte linterprétation à la mentalité et au langage contemporains. Le caractère concret et immédiat du langage biblique facilite grandement cette adaptation, mais son enracinement dans une culture ancienne provoque plus dune difficulté. Il faut donc sans cesse retraduire la pensée biblique dans le langage contemporain, pour quelle soit exprimée dune manière adaptée aux auditeurs. Cette traduction doit cependant être fidèle à loriginal, et ne peut pas forcer les textes pour les accommoder à une lecture ou à une approche en vogue à un moment donné. Il faut montrer tout léclat de la parole de Dieu, même si elle est «exprimée en paroles humaines»[Dei Verbum, 13].
La Bible est diffusée aujourdhui sur tous les continents et dans toutes les nations. Mais pour que son action soit profonde, il faut quil y ait une inculturation selon le génie propre à chaque peuple. Peut-être les nations moins marquées par les déviances de la civilisation occidentale moderne comprendront-elles plus facilement le message biblique que celles qui sont déjà comme insensibles à laction de la parole de Dieu à cause de la sécularisation et des excès de la démythologisation.
En notre temps, un grand effort est nécessaire, non seulement de la part des savants et des prédicateurs, mais aussi des vulgarisateurs de la pensée biblique: ils doivent utiliser tous les moyens possibles et il y en a beaucoup aujourdhui pour que la portée universelle du message biblique soit largement reconnue et que son efficacité salvifique puisse se manifester partout.
Grâce à ce document, linterprétation
de la Bible dans lÉglise pourra trouver un nouvel élan,
pour le bien du monde entier, pour faire resplendir la vérité
et pour exalter la charité au seuil du troisième millénaire.
Conclusion
16. En terminant, jai la joie de pouvoir, comme mes prédécesseurs, Léon XIII et Pie XII, présenter aux exégètes catholiques, et en particulier à vous, membres de la Commission Biblique pontificale, à la fois des remerciements et des encouragements.
Je vous remercie cordialement pour lexcellent travail que vous accomplissez au service de la parole de Dieu et du peuple de Dieu: travail de recherche, denseignement et de publication; aide apportée à la théologie, à la liturgie de la parole et au ministère de la prédication; initiatives qui favorisent lcuménisme et les bonnes relations entre chrétiens et juifs; participation aux efforts de lÉglise pour répondre aux aspirations et aux difficultés du monde moderne.
À cela, jajoute mes encouragements chaleureux pour la nouvelle étape à parcourir. La complexité grandissante de la tâche requiert les efforts de tous et une large collaboration interdisciplinaire. Dans un monde où la recherche scientifique prend plus dimportance en de nombreux domaines, il est indispensable que la science exégétique se situe à un niveau comparable. Cest un des aspects de linculturation de la foi qui fait partie de la mission de lÉglise, en lien avec laccueil du mystère de lIncarnation.
Que le Christ Jésus, Verbe de Dieu incarné, vous guide en vos recherches, lui qui a ouvert lesprit de ses disciples à lintelligence des Ecritures[Cf. Lc 24, 45]! Que la Vierge Marie vous serve de modèle non seulement par sa généreuse docilité à la parole de Dieu, mais aussi et dabord par sa façon de recevoir ce qui lui était dit! Saint Luc nous rapporte que Marie méditait en son cur les paroles divines et les événements qui saccomplissaient, «symballousa en tê kardia autês»[Cf. Lc 2,19]. Par son accueil de la Parole, elle est le modèle et la mère des disciples[Cf. Jn 19, 27]. Quelle vous apprenne donc à accueillir pleinement la parole de Dieu, non seulement par la recherche intellectuelle, mais aussi par toute votre vie!
Pour que votre travail et votre action contribuent de plus en plus à faire resplendir la lumière des Ecritures, je vous donne de tout cur ma Bénédiction Apostolique.
[1] Dei Verbum, 21.
[2] Enchiridion Biblicum, 82.
[3] Ibid., 118.
[4] Ibid., 546.
[5] Ibid., 562.
[6] Ibid., 552.
[7] Ibid., 251.
[8] Ibid., 552-553.
[9] Enchiridion Biblicum, 559.
[10] N. 13.
[11] Jn 1, 14.
[12] Lettre Apostolique Vigilantiae, pour la fondation de la Commission biblique, 30 octobre 1902: Enchiridion Biblicum, 142.
[13] Cf. ibid., 548.
[14] Ibid., 560.
[15] Cf. Gn chap. I.
[16] CF. 1 Co 12, 18. 24. 28.
[17] Vigilantiae: Enchiridion Biblicum, 140.
[18] Enchiridion Biblicum, 89.
[19] Ibid. 569.
[20] 1 Jn 4, 8. 16.
[21] Divino afflante Spiritu: Enchiridion Biblicum, 566.
[22] Cf. Enchiridion Biblicum, 108-109.
[23] Dei Verbum, 12.
[24] Dei Verbum, 12; cf. Providentissimus Deus: Enchiridion Biblicum, 109: « ut, quasi praeparato studio, iudicium Ecclesiae maturetur ».
[25] Cf. Divino afflante Spiritu: Enchiridion Biblicum, 551.
[26] Enchiridion Biblicum, 109.
[27] Ibid., 565.
[28] Dei Verbum, 13.
[29] Ibid.
[30] Dt 30, 11. 14.
[31] Dei Verbum, 13.
[32] Cf. Lc 24, 45.
[33] Ibid. 2, 19.
[34] Cf. Jn 19, 27.
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Dei Verbum